A resposta para essa pergunta é: claro que sim! Crianças devem fazer terapia, aliás, faz muito bem a elas. Várias pessoas acham que se deve procurar terapia em momentos mais críticos, como possíveis diagnósticos de autismo, TDAH ou até mudanças de comportamento. E quem pensa isso está certo por partes...
A verdade é que as crianças também precisam se autoconhecer. Entender do que elas gostam ou não, o que é bom para elas ou não. Nem sempre os espaços diários possibilitam isso. Há um grande receio de que as crianças possam errar e ter problemas. Mas errar faz parte, inclusive para os pequenos.
Crianças precisam de autonomia e encontrar seu próprio caminho separados dos pais, dos responsáveis e de outras pessoas.
Ainda é muito difícil enxergar a importância da autonomia das crianças, mas como os adultos, as crianças são seres humanos, em desenvolvimento, com escolhas, medos e tantos outros sentimentos.
Costumamos desmerecer as crianças e seus sentimentos, acreditando que elas são inferiores aos adultos, devido ao nosso histórico e experiências de vida. Mas a verdade é que, sim, as crianças são inteligentes e merecem escolher o que sentem ou não.
Nesse contexto, é importante ressaltar que a terapia é um momento único da criança e que esse instante merece ser respeitado. Nada do que a criança disser será repassado aos pais, especialmente sem a autorização dela. Inclusive, é importante relembrar aos responsáveis que o que for dito por eles não será levado em conta na terapia do pequenino, e não porque eles não estejam certos, mas porque acreditamos que a própria criança pode escolher onde quer ir e o que sente. No processo dos baixinhos, levamos em conta o que eles dizem, assim como na terapia do adulto. A criança é responsável por nos guiar no processo dela. Afinal, a terapia é da criança, e não dos pais.
Carl Rogers tinha uma frase linda para acreditarmos no potencial da criança: “Por que uma criança aprende a andar? Ela tenta erguer-se, cai e machuca a cabeça. [...] Não existe grande recompensa enquanto ela não conseguir realmente realizar seu intento, e apesar de tudo, a criança está disposta a suportar a dor [...] Para mim, isso é uma indicação de que existe uma verdadeira força de atração para a possibilidade de crescimento continuar”.
Na terapia dos pequenos, nós desejamos que eles sejam autônomos para aprenderem a lidar com seus sentimentos e seguirem seus caminhos independentes dos seus pais, pois elas merecem!
Quando nasce uma criança, surgem muitos medos e ansiedades para os pais. Existe a ideia de que os pais estejam acima das crianças, assim os pais acreditam que têm o poder na relação e que precisam controlar os passos da criança para evitar erros. Mas, assim como os responsáveis, as crianças têm suas próprias histórias. Inclusive, saber que elas podem escolher seus caminhos tira um peso gigante das costas dos pais. Há sempre a ideia de que tudo que a criança faz é culpa dos pais, só que essa máxima não é verdadeira. Essa frase é muito mais complexa.
Quando uma criança nasce, também nascem muitos mitos e expectativas. Um dos mitos é o da relação simbiótica, já que a criança é uma parte dos pais. A verdade é que a criança pode ser parte, mas ela não é os pais.
Nessa sociedade, pouco se dá espaço para ouvir, trocar e conversar com as crianças. E a escuta dos pequenos pode trazer muito mais aprendizado para os adultos. É comum que a falta de escuta traga diverso estragos para a saúde mental dos pequenos, vale ressaltar que a ação pode perpetuar em um caminho tortuoso até a vida adulta.
A terapia para as crianças também é feita por meio da escolha delas, ou seja, é muito divertida. A maior parte das vezes não tem aquela conversa de adulto, mas bastante brincadeira, é um momento lúdico para ela entender sua vida e do que gosta.
Na Abordagem Centrada na Pessoa, inclusive, a criança é totalmente responsável pela sessão! Ela que vai escolher como quer brincar, o que quer falar etc.
E se houver um problema com o qual os pais se preocupam? Nós, psicólogos, estaremos aqui para acolher, mas a criança precisa se preocupar com isso também para tratarmos em terapia. A verdade que, muitas vezes, certas preocupações são mais dos pais do que uma realidade na vida da criança. E ainda assim, os pais costumam perceber que as crianças se transformam no processo terapêutico.
Confie nos pequenos, eles têm muito mais a ensinar do que imaginamos! Respeite seus limites e escolhas e ajude a criança a se conhecer e a seguir o caminho do seu coração.
Quanto mais cedo a criança começar a terapia, não importa se por um problema ou outro ponto, sempre será importante, pois ela terá meios de se autoconhecer e conhecer seus sentimentos para melhor lidar com a vida em cada fase do seu desenvolvimento.
Que tal proporcionar momentos especiais para os pequenos? Conte comigo!
Aline Sampaio
Psicóloga direcionada a Abordagem Centrada Pessoa e Jornalista apaixonada pela informação.
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