Quem nunca ouviu a frase: “hoje todo mundo tem TDAH!”. E o que dá a entender o motivo desse questionamento é que basta a pessoa ter falta de atenção ou ficar confusa, e as pessoas já sugerem que ela têm algum tipo de doença.
A verdade é que diagnóstico é algo bastante sério, responsável aliviar ou sentenciar a vida de alguém. A investigação de um transtorno precisa ser dirigida de forma cautelosa e muito respeitosa.
Não é à toa que, na atualidade, até especialistas sobre o assunto existem no mercado, eles são os neuropsicólogos e realizam processos específicos, qualitativos (conversas) e até quantitativos (testes), para fornecer o diagnóstico.
Para diagnosticar uma pessoa, é preciso conhecê-la muito bem antes de sair dando qualquer nomeação a um transtorno. Inclusive, na Netflix, tem uma série bem legal que aborda o assunto, ela se chama Ex-Girlfriend, dá uma olhadinha nessa música que ela criou sobre o diagnóstico:
O diagnóstico pode estigmatizar e estereotipar a pessoa, excluí-la e trazer muitos problemas para a vida dela. Aliás, isso é algo bastante ruim, e os profissionais estão lutando para mudar.
Na Abordagem Centrada a Pessoa, o cliente é uma pessoa além do diagnóstico. Aliás, amo isso. Sempre digo “eu sofro com a asma, mas não sou a asma”. A doença é uma parte de mim e não quem sou.
O diagnóstico cria o risco de criar generalização da pessoa. Sim, colocar pessoas na caixinha e fazer com que todos sejam iguais.
Andei lendo alguns artigos sobre isso e olha que bacana esse trecho do artigo de Vinícius Voigt e Régis Maliszewski (2022):
“A doença mental, do ponto de vista médico, é um mau funcionamento de alguma coisa. E esse mau funcionamento possui um critério que pode ser mensurado, avaliado, e comparado com outras medidas de avaliação. Sobre um raciocínio biológico é completamente esperado realizar uma medição de anormalidade, utilizando de exemplo algum excesso ou falta de nutrientes. Se está acima ou abaixo da média básica, pode ser considerado um funcionamento desequilibrado. No entanto, que critérios estamos utilizando quando estamos falando de comportamento humano? Quem diz o que é normal, e o que é anormal? Se estamos afirmando que uma personalidade é disfuncional, estamos fazendo uma comparação através de quem ou o quê? Traduzindo o modelo humanista para o psicodiagnóstico, a saúde não é mais um estado fixo, e sim um processo. O organismo como unidade total e complexa vai se alterando em conjunto com o mundo, se atualizando e atribuindo significados conforme vai se transformando. Logo, saúde e doença no enfoque da Abordagem Centrada no Cliente, não é mais visto de forma dicotômica, ou em oposição uma à outra. A saúde e a doença são fases do mesmo processo experiencial. Em outras palavras, saúde não se trata mais da ausência de doença. A preocupação então não está mais em tratar o transtorno, e sim tratar uma pessoa conforme ela o experiência”.
Eu ouvi uma vez e amei em uma imagem o seguinte:
Eu concordo totalmente!
O maravilhoso Marcos Alberto da Silva Pinto, em um texto no site do Encontro ACP, traz uma reflexão sobre a palavra diagnóstico: “o sentido original da palavra diagnóstico (gnossis: conhecimento; dia: através), ou seja, conhecer o outro através. Conhecer o outro inteiro, por trás da fachada, em seus sentimentos e sentidos. Em minha opinião, infelizmente, o que vemos hoje como diagnóstico é algo completamente oposto a esta concepção.”.
Na atualidade, diagnosticar alguém é quase que contar uni, duni, tê. Contam-se os cinco sintomas, coloca-se o checklist na lista, está aí, achou a doença. Mas a pessoa tem uma vida e um histórico que podem oferecer muito mais respostas que isso.
Hoje, as pessoas fazem diagnóstico por meio do Google ou do jornal das sete.
“Quando se diagnostica o outro, a meu ver, se está colocando a pessoa em uma condição inferior. A pessoa passa a ser o segundo plano. O diagnóstico afasta o profissional da pessoa. Frases do tipo: – Afinal eu sou mesmo depressivo; – O que se pode esperar de um esquizofrênico como eu; a meu ver colaboram para que a pessoa perca a crença na sua possibilidade de se desenvolver e enfrentar a sua dificuldade em condições de igualdade, buscando a sua libertação e melhoria da qualidade de vida. Ao invés de cuidar, o diagnóstico tem servido para que haja uma total descrença e pré-conceito com a pessoa que sofre.” (PINTO, 2003)
Eu prefiro ver pessoas como humanas, de carne osso, e não como rótulos, afinal cada pessoa se encontra dentro de um transtorno de diferentes formas.
E, para finalizar, fica esse textinho:
“A luz da Psicologia Humanista Existencial, o objetivo da psicoterapia não é de resolução de problemas, e sim de auxiliar o indivíduo a crescer psicologicamente, de modo que possa desenvolver seus próprios recursos de enfrentamento para lidar com as adversidades que acaba se deparando na sua vida. O alvo desta prática, portanto, está no indivíduo e não em seu problema. A mudança psicoterapêutica acontece quando o terapeuta torna-se um facilitador do aumento do campo da consciência, do crescimento e solução de problemas e conflitos, auxiliando o indivíduo a encontrar a verdade existencial'’ '’. (JUSTO, 1997, p. 43)
Ah!, outro vídeo legal! Eu nem sei se ele é humanista, mas o adoro:
Fonte: matheusvazf
Referências
PINTO, Marcos Alberto da Silva. A pessoa por trás do diagnóstico. 2003. Disponível em: https://encontroacp.com.br/textos/a-pessoa-por-tras-do-diagnostico/
VOIGT, Vinícius. E MALISZEWSKI, Régis. A Pessoa como Centro: Reflexões sobre a Terapia Centrada no Cliente e o Psicodiagnóstico. Anais do 20º Encontro Científico Cultural Interinstitucional, 2022. Disponível em: https://www4.fag.edu.br/anais-2022/Anais-2022-22.pdf
Aline Sampaio
Psicóloga direcionada a Abordagem Centrada Pessoa e Jornalista apaixonada pela informação.
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