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Foto do escritorAline Sampaio

Qual é a importância da terapia para quem sofre com relacionamento abusivo?



Cada vez mais falamos sobre relacionamento abusivo. E existem motivos para isso. Segundo uma pesquisa da ONU Mulheres, 3 em cada 5 mulheres sofreram, sofrem ou sofrerão violência em um relacionamento afetivo. Mesmo com o passar dos anos e a emancipação das mulheres, esses números ainda são altos, e precisamos falar disso.


Vale ressaltar que mesmo com pesquisas mais direcionadas para mulheres, homens também sofrem com relacionamento abusivo, mas esse problema é quase mais característico de mulheres. O motivo que muitos deles não abordam esse assunto é o mesmo que faz eles reproduzirem o problema: o machismo. Estudos salientam que os homens não conseguem falar o que sentem e o que sofrem por muitos motivos, dentre eles, acreditam que não serão levados a sério, serão menosprezados e desqualificados.


Para começar, você sabe o que é um relacionamento abusivo? Muita gente não sabe nem mesmo o que seria a prática. E é por isso que é importante explicar mais isso. Relacionamento abusivo é caracterizado quando, dentro da relação, há abusos de forma física ou emocional.


“Segundo a Política Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres (2011), homens e mulheres sofrem violência de forma diferenciada, ao passo que homens tendem a ser vítimas nos espaços públicos, as mulheres são atingidas cotidianamente dentro de seus próprios lares, geralmente, por seus companheiros e familiares, como mostram estudos populacionais e em serviços de saúde (SCHRAIBER ET AL, 2002; DESLANDES, GOMES E SILVA, 2000). A violência contra a mulher, de acordo com as Nações Unidas (1993), consiste em quaisquer atos violentos que se baseiem no gênero, que provoque ou tenha probabilidade de provocar, danos físicos, sexuais e/ ou psicológicos, incluindo a ameaça para a prática dos referidos atos, a coerção ou privação arbitrária da liberdade em ambiente privado ou público.” (GOMES e FERNANDES, 2018)


Ainda segundo Gomes e Fernandes (2018), o fenômeno alcança mulheres em diferentes classes sociais, origens, regiões, estados civis, escolaridades, raças, orientações sexuais e idades (BRASIL, 2011) .


E o que seriam esses abusos? Eles podem ocorrer de diversas formas. Vou listar alguns:


Abuso verbal: feito por meio de palavras, falas, escritas, comunicações verbais no geral. É comum ser feito por xingamentos, falas que diminuem o parceiro, grosserias e muito mais. A ideia é sempre trazer uma emoção ruim para o companheiro. Aliás, nesse quesito também podemos citar as chantagens emocionais, por meio das quais são feitas a maiores manipulações ao parceiro.


Abuso sexual: forçar relações sexuais, explorar o corpo do parceiro sem consentimento, praticar atividades no ato sexual sem a permissão do companheiro. É comum ligarmos esse tipo de abuso diretamente ao estupro, mas há outras formas, um exemplo são homens que tiram a camisinha durante a relação sexual.


Abuso físico: tapas, murros, arranhões, apertões e muitas outras ações que machucam fisicamente a vítima. Já sabemos da agressão física, que é muito comum!


Vale ressaltar que o relacionamento abusivo costuma ter um ciclo. Pesquisei e achei uma ilustração bem bacana da Coordenadoria Regional de Educação de Corumbá:

É muito comum que quem sofre um relacionamento abusivo seja inseguro, tenha baixa autoestima. Vale ressaltar que, mesmo sendo a maioria, não necessariamente quem sofre com o problema tenha esses adjetivos, muitas vezes a pessoa pode ter boa autoestima e ser seguro e ainda passar pelo problema. O motivo pelo qual a vítima entra nesse processo pode variar de pessoa a pessoa e precisa ser entendido individualmente. Existem muitos mitos sobre o assunto, e é algo, inclusive, que prejudica diversas vítimas e confunde na hora de buscar ajuda.


Mas como a terapia pode ajudar no relacionamento abusivo? Primeiro, a terapia vai ajudar a pessoa a se escutar! A olhar para seu eu e entender como se sente dentro desse relacionamento.


É comum que as pessoas tenham dificuldade de entender que estão em um relacionamento abusivo, e a terapia é um caminho para isso. Reconhecer suas fragilidades, suas problemáticas e como você está em congruência com sua vida. Algumas pessoas normalizam os abusos, colocando-os como algo natural no dia a dia, por isso é preciso entender como essas ações mexem diretamente a pessoa, e a terapia a guiará para que ela não ache essas práticas como naturais.


Vale enfatizar que a Abordagem Centrada na Pessoa sempre leva em consideração o que as pessoas sentem, então é a pessoa que deve sentir como esse relacionamento prejudica sua vida. Inclusive, muitas pessoas quando veem uma pessoa sofrendo no relacionamento abusivo costumam ficar bastante chateadas com a situação e com a vítima.


“Ela não me escuta”, “Ela não seguiu meu conselho”, mas qual é o motivo de a pessoa continuar nesse relacionamento? Esse motivo é único e, sim, varia de pessoa a pessoa. Precisamos entender a necessidade da pessoa que está nesse relacionamento. Respeitar o espaço dela é importante também.


Imagine que esse processo já é muito difícil para a pessoa, ela precisa de alguém para guiá-la, escutá-la, e para não a julgar. É bem comum que as pessoas julguem a vítima do relacionamento abusivo.


Conforme a Teoria do Mundo Justo, os indivíduos endossam crenças de que as pessoas têm o que merecem e merecem o que têm, de modo que tendem a avaliar que os acontecimentos ocorrem por razões boas e compreensivas (LERNER, 1980). Essa necessidade de acreditar que o mundo é justo pode ser expressada por duas dimensões, a dimensão pessoal (CMJ-P) que avalia a justiça e o merecimento do sujeito para si (MODESTO et al., 2017), (ou seja, engloba os significados atribuídos ao próprio indivíduo, e a dimensão global CMJ-G), que diz respeito às avaliações estabelecidas para as pessoas e o mundo em geral. De acordo com a teoria, diante da imprevisibilidade, as pessoas desenvolvem mecanismos de defesa com o intuito de se sentirem seguras para que, assim, possam seguir adiante com as suas atividades do dia-a-dia. Nesse sentido, tais recursos podem vir a deturpar avaliações sociais, como no caso da percepção de vitimização, abarcando a responsabilização das vítimas que se envolvem em eventualidades desfavoráveis.” (BATISTA apud TAVARES, 2019)


Ainda segundo a autora, nessas situações, a responsabilização da vítima ocorre quando o percebedor depara-se com a impossibilidade de eliminar ou até mesmo minorar o sofrimento daquela pessoa, portanto encontra-se incapaz de interromper o processo de vitimização. Assim, na tentativa de reduzir uma dissonância cognitiva (em função da percepção de justiça), ele acaba desenvolvendo a crença de que a vítima não foi, de fato, alvo de uma injustiça. Logo, a vítima passa a ser considerada merecedora do que lhe aconteceu em função do seu comportamento e a CMJ do observador segue preservada. Esse fenômeno é conhecido como culpabilização da vítima (CORREIA, 2000).


Sempre escute a pessoa que sofre com relacionamento abusivo, se ela der abertura, sugira procurar ajuda, mas não a force que ela vá no seu tempo, mas sim no tempo dela. Outra coisa importante: respeitar o momento dela não significa que não “meterá a colher”, fale o que sente, mas escute o que a pessoa diz. Não confronte, a pessoa não precisa escutar que está errando, ela precisa de um amigo para ajudá-la.


Quanto à terapia, se sentir acolhido e ouvido faz que as pessoas se sintam respeitadas nesse momento, repensem seus caminhos e aonde desejam ir.


Carl Rogers dizia: “Quando percebem que foram profundamente ouvidas, as pessoas quase sempre ficam com os olhos marejados. Acho que na verdade trata-se de chorar de alegria. É como se estivessem dizendo: ‘Graças a Deus, alguém me ouviu. Há alguém que sabe o que significa estar na minha própria pele’”.


O caminho da terapia para quem sofre com um relacionamento abusivo será de reencontro consigo mesmo e se entender dentro da relação que vive.


E você como acha que a terapia pode ajudá-lo no relacionamento abusivo?


Referências

BRASIL. (2011). Presidência da República. Política Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres. Brasília: Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres. Disponível em: http://www.spm.gov.br/central-de-conteudos/publicacoes/publicacoes/2015/balanco180-10meses-1.pdf


BATISTA, Talitha Serra Ferreira. Percepção de Justiça Frente à Permanência de Mulheres em

Relacionamentos Abusivos. Brasília, 2022. Disponível: https://www.publicacoesacademicas.uniceub.br/pic/article/view/8897


CORREIA, I. F. (2000). A teoria da crença no mundo justo e a vitimização secundária: Estudos empíricos e desenvolvimentos teóricos. Psicologia, 14(2), 253-283.


DESLANDES, S.F., Gomes, R., Silva, C.M.F.P. (2000). Caracterização dos casos de violência doméstica contra a mulher atendidos em dois hospitais públicos do Rio de Janeiro. Cadernos de Saúde Pública.


GOMES, Ingridd Raphaelle Rolim; Fernandes, Sheyla C. S.A permanência de mulheres em relacionamentos abusivos à luz da teoria da ação planejada. Universidade Federal de Alagoas - Maceió, 2018. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-711X2018000100006


LERNER, M. J. (1980). The Belief in a just World. US: Springer

Modesto, J. G., Figueredo, V., Gama, G., Rodrigues, M., & Pilati, R. (2017). Escala pessoal de crenças no mundo justo: adaptação e evidências de validade. Psico-USF, 22(1), 13-22.

SCHRAIBER, L. B., d'Oliveira, A. F. PL., França-Junior, I., & Pinho, A. A. (2002). Violência contra a mulher: estudo em uma unidade de atenção primária à saúde. Revista de Saúde Pública, 36(4), pp. 470-477.


TAVARES, S. M. (2019). Elaboração e validação da escala de vitimização secundária da violência sexual. [Trabalho de Conclusão de Curso, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa].


Aline Sampaio Psicóloga direcionada a Abordagem Centrada Pessoa e Jornalista apaixonada pela informação.


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