Por Aline Sampaio
Uma das primeiras coisas que as pessoas que chegam na terapia já pensam é quando vão parar! Por incrível que pareça, esse pensamento é mais comum do que muita gente imagina. Todo mundo já chega no processo terapêutico pensando quando vai acabar tudo isso.
Os motivos são inúmeros. Primeiro, que as pessoas querem acabar com o sofrimento rapidamente. Mas esse não é o único.
Já sabemos que o autoconhecimento gera vários desafios e, principalmente, medos e desconfortos. Descobrir aquilo que pode não ser tão legal em você pode lhe trazer mal-estar, e passar por esse processo pode ser motivo de fuga para muitos clientes. Cada um inclusive tem o seu limite.
Por outro lado, várias pessoas levam a terapia como resolvedor dos seus problemas e não para o olhar de vivenciar o seu cotidiano. A terapia é um lugar para se escutar, se vivenciar, e, na sociedade de hoje, quase não temos tempo para isso.
Eu costumo dizer que vivemos na sociedade do micro-ondas, queremos colocar os problemas no aparelho e, em um minuto, fica tudo pronto! Tchum. Mas a verdade é que uma história de anos que lhe transformou não acabará com um estalar de dedos. Talvez precise de um processo, tanto para você se entender quanto para mudar tudo isso. Eu costumo ser clichê e falar que é igual a uma planta: o tempo de plantar a semente, nascer e colher os frutos.
Gosto muito de um filósofo chamado Byung-Chul Han, ele sempre traz perspectivas bem bacanas sobre a nova sociedade que vivemos, ele costuma dizer que “hoje o indivíduo se explora e acredita que isso é uma realização. Parece que a todo tempo precisamos alcançar uma meta e sermos produtivos. Ser a pessoa com resultados. E muitos vêm assim para a terapia também, com diagnóstico, respostas e prescrição. No final, acabam se frustrando ao perceberem que precisam retornar.
Muito dessa vontade de ter resultado também tem a ver com outro ponto: a ansiedade. Essa ansiedade que a sociedade nos impõe do que ser, de entrar em uma forma de bolo que precisamos ser. Se as metas para entrar nessa história não acontece rápido, as pessoas se frustram.
Muitos até fazem o caminho inverso, vão ao psiquiatra porque precisam de todo jeito resolver o problema e acabar com aquela dor, mas sempre digo que o remédio, quando o assunto é saúde mental, é paliativo. Assim como quando temos dor de estômago, o remédio tira a dor, mas não muda os hábitos alimentares. A terapia muda esses hábitos, pois você entende como chegou até eles e por que deseja fazer diferente ou continuar com eles.
Terapia é um processo que precisa ser vivenciado, é um processo único, é seu e precisa ser respeitado. Há, sim, possibilidades de ter resultados rápidos. Há abordagens que se utilizam de terapia breve ou até de contextos com mais agilidades, mas depende do que você quer tratar e de como você deseja tratar.
Eu preciso do processo, até porque os estudos demonstram que os resultados são mais duradouros. E, para mim, a terapia não é sobre a coisa mercantilista ou capitalista de resolver problemas, é sobre se encontrar e vivenciar a vida. Não estou comprando soluções, estou vivenciando a vida, encontrando formas de viver melhor comigo mesmo, com quem sou. Quero não viver em caixinhas da sociedade, mas amar o que sou.
Aline Sampaio
Psicóloga direcionada a Abordagem Centrada Pessoa e Jornalista apaixonada pela informação.
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