Por Aline Sampaio
Baumann deve ter algum conceito para isso, mas eu não quis pesquisar hoje (mentira!), mas sinto que as pessoas querem ter novidades o tempo todo. Eu mesma sou exatamente assim. Queria que toda hora existissem coisas novas na minha vida. Porque eu também sou uma pessoa paradoxal: adoro rotina, mas amo aprender algo nova o tempo todo. Digo que sou a FOMO (Fear of Missing Out) em pessoa! Tenho medo de perder algo o tempo todo.
Porém, eu não escrevi esse texto com o intuito de falar sobre as coisas novas, mas como as pessoas se preocupam em repetir, repetir e repetir os mesmos assuntos na sessão. As pessoas acham que repetir é um problema e se culpam muito por isso.
Algumas ficam chateadas achando que não evoluíram, outras acham que incomodam a psicóloga (no caso eu!). Há quem se incomode consigo mesmo por achar que está errado, por se apegar a uma coisa que nem faz mais sentido naquele momento. A verdade é que repetir faz parte do processo.
Repetir faz você se escutar e entender o processo daquele lugar. Repetir faz você se refazer, se notar novamente e refazer o processo dessa história. Aliás, às vezes, não repetir pode ser um grande problema. Isso porque escondemos muitas coisas na nossa cabeça a fim de não mexermos em lugares que nos doem. Mas chega um momento que tudo aquilo que ficou escondidinho vem à tona, e o resultado nem sempre é bom.
Atualmente, a novidade nos oferece a falsa sensação de que algo acontece e que melhor ficamos. Eu brinquei sobre Baumann, mas fui buscar um texto que fala sobre isso: “[...] a sociedade líquida, pouco apegada aos seus antecedentes, é obcecada pela novidade: a nova notícia, a nova promoção, o novo carro, a nova rede social. Os laços que uniam os homens ao passado são cortados, e vive-se numa espécie de ‘eterno presente’. Os produtos se renovam diariamente, e os empresários não temem anunciar que os próprios objetos produzidos já estão ‘atrasados’. Da mesma forma, os trabalhadores do século XXI vivem numa constante liquidez, numa permanente incerteza e medo de ser ‘descartados’, posto que a mobilidade e a flexibilidade das empresas são tamanhas que, a qualquer momento, cortes inesperados e mudanças de planos podem acontecer. A solidez das convicções, assim, foi substituída pela liquidez do instante. Nos laços amorosos, observa-se a mesma tendência: relacionamentos fluidos, inconstantes e momentâneos caracterizam nossa época, que consagrou o conceito de ‘ficar’, expressão da liquidez do amor” – Guia do Estudante.
A estranha sensação de que precisamos nos renovar o tempo todo, de que precisamos ser seres que sabemos tudo, tudo precisa ser muito rápido, que nos esquecemos até do tempo que precisamos para nós mesmos.
E assim é o processo terapêutico, único e de cada um, às vezes dolorido, às vezes tranquilo, às vezes repetitivo, às vezes irritante, às vezes apaziguador, às vezes relaxante, às vezes triste.... mas ainda único. A verdade que a terapia é um processo, não é uma corrida, com linha de chegada, e a cada um encontra a melhor forma de fazê-la. Não precisa ser só fala, não precisa ser só choro, mas pode ser muito riso e, principalmente, precisa ser uma escolha.
Referências
ZYGMUNT BAUMAN: Bauman utilizou o conceito de “Modernidade Líquida” como forma de explicar como se processam as relações sociais na atualidade. 2017. Disponível em:https://guiadoestudante.abril.com.br/especiais/zygmunt-bauman
Aline Sampaio
Psicóloga direcionada a Abordagem Centrada Pessoa e Jornalista apaixonada pela informação.
Comments