Por Aline Sampaio
Dia desses, uma pessoa dos meus tempos de jornalismo me indicou para dar entrevista em uma matéria na TV. Uau! Achei um máximo, não era a primeira vez que iria a essa emissora. Eu me lembro de que, na primeira vez, minha barriga quase explodiu de tantas borboletas no estômago. Fui mais segura, em referência a minha estreia, mas ainda apreensiva.
O apresentador chegou, já me reconheceu, me abraçou, foi fofo! A entrevista seria sobre “ansiedade”. Tema cool. Liga a câmera, eu começo a falar, o apresentador diz: Você é ansiosa? Me parece! Respirei fundo, pensei “não vou mentir!” e respondi: Sim, eu sou!
A entrevista foi ótima! Mas quando tudo terminou, as luzes se apagaram, e eu tirei o salto... milhões de urubus se transportaram para meu céu de brinquedo. Sim, a ansiedade me dominou.
Como uma psicóloga pode assumir que é ansiosa?
Chorei, sofri e, depois, respirei. Chamei uma amiga para conversar. E foi incrível!
Por um minuto, eu me vi perdida, diante da minha própria falta de compaixão comigo, e aí quando ela falou, lembrei “psicólogo é humano!”.
Sim, sou humana. Eu sinto ansiedade, tristeza, dor, enjoo e tudo o que qualquer ser humano sente. Quando eu decidi escolher a Abordagem Centrada a Pessoa, eu escolhi que não seria apenas um CRP, CNPJ, mas eu gostaria ser uma humana que atende humanos.
Sim, meu coração se preocupa com os clientes (e como ajo com eles também!). Eu tenho saudades, eu me identifico com meus clientes, eu tenho sentimentos por eles. E amo ter isso.
A ideia sempre é que o psicólogo precisa ser uma pessoa fria, distante e que é o dono da razão. Mas a realidade é que quero trocas com meus clientes, inclusive errar e acertar, porque isso me faz humana, que é um ser imperfeito.
Nessa conversa com minha amiga, ela me indicou o livro do Alexandre Coimbra Amaral: Toda Ansiedade Merece um Abraço. Foi a melhor indicação que a querida poderia fazer.
Não investiguei a Abordagem de Alexandre, mas só senti que ele era humano! O humano que gostaria muito de abraçar.
Em tempos de redes sociais, de vida corporativa ativa, precisamos ser perfeitos. Psicólogos de foto de carteirinha nas mídias. Mas, às vezes, ser um profissional de psicologia é ser sozinho, julgado o tempo inteiro; inclusive, pelos próprios profissionais da área da psicologia e da saúde.
Já ouvi coisas terríveis de colegas da minha área, que me perguntei “como essa pessoa auxilia pessoas?”. Eram julgamentos doloridos! Sim, eu faço terapia, mas eu também tenho vida, história e, principalmente, problemas. E, claro, sei separar eles do meu atendimento, mas não da minha própria alma.
Sempre me perguntam: Você não fica mal com as coisas que falam para você?, e eu sempre respondo: Não, por que aquele momento da terapia é da Pessoa, e não meu, estou lá de coadjuvante, existindo, mas focando em outro ser.
As coisas não são sobre mim na terapia, são sobre o outro e, especialmente, sobre meus aprendizados diante dos outros. É assim que levo. Não levo como afronta, mas como um abraço.
Alexandre, aliás, me deu um abraço, quando ele me falou coisas incríveis nessa obra. Ele fala sobre como a ansiedade é vista como um tabu hoje. Aliás, é impossível não ter ansiedade hoje, há tantas coisas surgindo o tempo todo: redes sociais, tendências, roupas, falas, fofocas, programas, a lista é grande!
Inclusive, já há estudos que falam da impossibilidade de não ser ansioso em qualquer cidade em que vivemos. Afinal, lidamos com telas o tempo todo, barulho de carros etc. Aliás, Alexandre faz questão de citar vários tipos de pessoas e cada possível ansiedade que possa surgir.
É tão surreal isso, que esse sentimento tão latente nos nossos dias de hoje, seja quase um pecado ao falar sobre isso.
Aliás, é preciso falar que ansiedade não é um problema. Ansiedade é um sistema necessário para nos proteger. A ansiedade pode nos ensinar a fazer algo novo, inovar, e muitas outras coisas. Ela se torna negativa quando paralisa você, e não que vivencie novas vidas.
Aprendi muito com Alexandre nesse livro e agradeço à minha amiga por isso. No final, eu me perdoei, me respeitei e pensei “só quero na minha vida quem me veja como humana. Não importa quem seja”. E, para mim, ser humana é ser imperfeita com minhas vulnerabilidades.
Como já dizia a querida Brené Brown: “Vulnerabilidade não é ganhar, nem perder. É ter a coragem de ser expor, mesmo sem poder controlar o resultado.”.
Para encerrar, no final fiquei feliz, sim, sou psicóloga e ansiosa, e não tem nada de errado nisso. Eu me orgulho por isso, porque sou um ser humano em aprendizado.
Aline Sampaio
Psicóloga direcionada a Abordagem Centrada Pessoa e Jornalista apaixonada pela informação.
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